2º do Médio
A Utopia, o Príncipe e a Cocanha
As duas obras trabalhadas nesta situação de aprendizagem nos convidam a,
pensar e refletir sobre os dois estudiosos renascentistas (Nicolau Maquiavel e
Thomas Morus) e suas relações com o imaginário popular dentro de uma relação de
“circularidade” cultural entre o erudito e o popular.
Nicolau Maquiavel, um dos principais pensadores políticos da península
Itálica no século XVI, foi alto funcionário da chancelaria de Florença e
designado para tratar de assuntos externos da República florentina. Sua obra
principal, O Príncipe, foi publicada no final de sua vida e reflete o pragmatismo
típico de um funcionário que transitou entre as esferas de poder da Europa e
conheceu os jogos políticos de seu tempo. Evidencia a grande fragilidade dos
Estados europeus, ainda em processo de formação, e como se colocavam os governantes
e políticos diante das circunstâncias que lhes apareciam. Leia o texto a
seguir:
“O príncipe, de todo modo, deverá
fazer-se temido, de sorte que, em não granjeando a estima, ao menos evitará ser
o alvo de ódios, afinal, é perfeitamente possível a um só tempo fazer-se temido
sem fazer-se odiado, o que, aliás, ocorrerá sempre que ele se abstiver dos bens
dos seus concidadãos e dos seus súditos, bem como das mulheres destes.
E, se ainda precisar atentar
contra o sangue de alguém, deverá fazê-lo com uma decorosa justificação e com
uma razão manifesta.
Mas, sobretudo, deverá ele
abster-se dos bens de outrem, visto que os homens não tardam tanto a esquecer a
morte de um pai quanto a perda de um patrimônio.”
MAQUIAVEL,
Nicolau. O Príncipe. Porto Alegre: LP&M,
2006.
Ele (Maquiavel) escreveu o livro em uma península não-unificada, com
guerras e invasões estrangeiras constantes; a fragilidade de alguns governos
italianos preocupava-o, se comparada com monarquias poderosas como a inglesa, a
francesa e a espanhola.
A importância da obra de Maquiavel na época de sua produção deu-se
principalmente, porque foi escrito durante a consolidação dos Estados Modernos
europeus. Há durante todo o livro lições de como um governante deve agir para que
o poder seja adquirido e mantido em suas mãos.
Paralelamente ao pragmatismo de Maquiavel, a Europa Medieval conviveu
com inúmeras utopias, como o mito da Fonte da Juventude e o Reino do preste
João, sendo a mais famosa delas a criada por Thomas Morus. No geral, elas
constituíram as idealizações “de sociedades afortunadas, regidas por leis muito
diferentes dos rígidos preceitos que ordenam a vida cotidiana. As utopias do
século XVI desejaram fazer passar por concreto o que era exagerado e o que
contrariava frontalmente as duras regras da vida real, refletindo um forte
pessimismo em relação ao presente e uma grande esperança no futuro”.
O texto de Thomas Morus que você confere a seguir é uma utopia erudita,
na qual se descreve uma ilha bastante organizada, onde os habitantes trabalham,
possuem poucas leis, mas elas existem; há um regramento da alimentação,
embasado na manutenção da saúde.
No caso das utopias populares, diferentemente da obra de Morus, o
destaque é a Cocanha, região mitológica na qual as pessoas não trabalhavam, só
havia vinho para beber, comida abundante, sexo ao bel-prazer e o melhor de
tudo: nada disso tinha fim. Era uma quimera muito frequente no imaginário popular
da época: “representou os anseios dos homens pobres do Renascimento, e uma recusa
obstinada, por meio da imaginação, da precariedade da vida”.
“Os utopianos vivem em paz e
amizade uns com os outros. Nenhum magistrado se mostra orgulhoso ou temível.
Chamam-lhes pais e, de fato, agem como tal. Os cidadãos prestam-lhes as devidas
homenagens, espontaneamente, sem qualquer coação.
O próprio príncipe não se
distingue dos outros cidadãos por vestuário principesco, nem por coroa, diadema
real ou manto, mas por um pequeno feixe de trigo que leva consigo. Espantam-se
os utopianos que alguém seja tão louco que se deleite com o brilho incerto de
uma pérola ou pedra preciosa, quando se pode olhar o brilho das estrelas e a
luz do Sol. [...] Maravilham-se também que o ouro, por não servir para nada,
seja mais estimado entre os outros povos que o próprio homem [...].”
MORUS,
Thomas. Utopia. São Paulo: Martin Claret, 2004.
Ao descrever a ilha de Utopia, Morus fez duras críticas ao contexto
inglês do século
XVI, sobretudo, ao poderio dos reis, da ganância gerada pela riqueza e pelo
poder.
Ele escreveu a Utopia no século XVI, durante o reinado de Henrique
VIII, em um contexto absolutista, no qual o poderio da monarquia inglesa atingiu
seu ápice.
Morus foi executado por Henrique VIII, um dos principais admiradores de
Maquiavel.
Bons estudos!
Ajudou muito...Muito Obrigada!!! Tinha que fazer uma redação e esse texto contribuiu e muito.. Parabéns pelo talendo e explicação de tudo bjs..
ResponderExcluirvlw
ResponderExcluirMuito legal Professor Parabéns!
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