terça-feira, 3 de abril de 2012

Diários de Cristóvão Colombo


Situação de Aprendizagem 4
Interações Culturais

Caros alunos, conforme combinado, aqui estão excertos dos textos trabalhados em sala, sintam-se a vontade para consultar, estudar e comentar! 



Diários de Cristóvão Colombo

A primeira impressão dos espanhóis sobre os índios foi de gente dócil, ingênua e confiante. Eles ficaram encantados com os presentes que os espanhóis davam, tipo contas de vidro colorido, e em troca estavam dispostos a dar qualquer coisa que tivessem.

Ao partir, Colombo deixou 39 homens na ilha de Hispaniola, com a missão de construir um forte que seria o primeiro posto da futura ocupação da região. Quando, um ano depois, Colombo chegou em sua segunda expedição, não achou ninguém. Só uns restos de cabanas de madeira queimados. Através de intérpretes soube-se que os espanhóis, ao invés de construir um forte, tinham se dedicado aos prazeres da carne. Andavam pela ilha em bandos, se aproveitando de qualquer mulher que lhes atraísse, chegando ao estupro se a vítima não cedesse.

A partir do início da segunda viagem, o relacionamento com os índios mudou. Aqueles que antes eram elogiados pela sua generosidade e inocência, agora eram chamados de selvagens. Em vez de falar em fraternidade, e em conversão ao catolicismo, falava-se em escravos e ouro. As interpretações mais recentes da vida de Colombo lhe dão o papel de um homem indeciso e fraco, às vezes violento, e falam em matança de índios e genocídio. Embora haja controvérsias a respeito, vou reproduzir aqui algumas dessas acusações já que, exageradas ou não, são um assunto importante que não pode ser omitido. A principal fonte de informações para estes fatos é o Frei Bartolomeu de las Casas, que chegou à America no começo do séculos XVI. Ele escreveu um relato do descobrimento. O problema é que o conceito de rigor histórico não existia naquele tempo, e um historiador freqüentemente misturava fatos com boatos e lendas. Além disso, las Casas foi um veemente defensor dos índios, e tinha a tendência de acreditar em tudo que lhe contassem que fosse favorável aos índios e desfavorável aos descobridores.

Bons estudos!
 


Cartas de Américo Vespúcio e Pero Vaz de Caminha


Situação de Aprendizagem 4
Interações Culturais

Caros alunos, conforme combinado, aqui estão excertos dos textos trabalhados em sala, sintam-se a vontade para consultar, estudar e comentar! 

Cartas de Américo Vespúcio e Pero Vaz de Caminha: O Índio no Imaginário Português

Já na carta de Caminha ao rei de Portugal ficava clara a superioridade com que os portugueses lidavam com a população do Brasil. Eles, os "homens do mar", entraram em contato com os "homens da terra", segundo um sistema de regras e leis.
Não reconhecendo nos nativos uma cultura própria, os portugueses pretendiam torná-los súditos do rei de Portugal e cristãos. Eram incapazes de entender os índios e o seu contexto sócio - cultural, reduzindo-os à condição de selvagens, de acordo com os padrões europeus.
Desde os contatos iniciais com os indígenas, os portugueses, de um modo geral, desenvolveram uma visão ambígua sobre eles. O próprio Caminha, em sua carta ao rei Dom Manuel, descreveu-os como "rijos, saudáveis e inocentes". Ao mesmo tempo, comparou-os com animais, chamando-os de "gente bestial e de pouco saber". Américo Vespúcio, em sua célebre carta Mundus Novus, via-os como "índios mansos, vivendo de forma paradisíaca, de acordo com a lei natural".

O livro das maravilhas de Marco Polo

Entre os viajantes ocidentais mais conhecidos está Marco Polo, mercador veneziano que empreendeu uma viagem à China entre 1271-1275. Ao retornar a Veneza, relatou suas experiências ao escritor Rustitchello de Pisa, dando origem ao “Livro das Maravilhas”. A presente pesquisa se vale deste texto a fim de analisar a violência nesta obra de Marco Pólo. Marco Polo se detém em três formas principais de violência ilegítimas: a presença de assassinos, o banditismo e a pirataria. Ele dedica a estes temas um número expressivo de linhas, procurando descrever detalhadamente a ação destes indivíduos dos quais o próprio narrador foi vítima. Dada a sua proveniência ocidental e sua crença cristã, o relato de Marco Polo está imbuído de críticas, algumas vezes latentes, outras explícitas, à religião muçulmana, seguida ou utilizada para seus fins, por muitos bandidos segundo seus escritos. A violência, de fato, é um fenômeno disseminado pelas diferentes sociedades, nos diferentes períodos históricos. Elemento constitutivo da sociedade, a percepção sobre os atos concebidos como violência é variável de acordo com cada época e local. A obra de Marco Polo possibilita a apreensão da visão de um ocidental sobre as formas de violência adotada s nas sociedades orientais, permitindo conhecer um pouco sobre a percepção ocidente em relação ao banditismo, bem como a forma como esta prática se dava.

Bons estudos!

Superioridade do homem branco


Situação de Aprendizagem 4
Interações Culturais

Caros alunos, conforme combinado, aqui estão excertos dos textos trabalhados em sala, sintam-se a vontade para consultar, estudar e comentar! 

O poeta britânico Rudyard Kipling, em 1899, publicou um poema intitulado O fardo do homem branco, a respeito da conquista dos Estados unidos sobre as Filipinas. Apesar de seu poema alertar dos perigos e dos custos envolvidos na ação de conquista, tornava-a, ao mesmo tempo, um nobre empreendimento, sob o ponto de vista da “missão civilizatória da raça branca”. Leia a sua primeira estrofe:

“O fardo do homem branco
Tomai o fardo do Homem BrancoEnvia o melhor da tua raçaVão, obriguem seus filhos ao exílio Para servirem às necessidades dos seus cativosPara esperar, com pesados arreios,Com agitadores e selvagensSeus recém-cativos povos entristecidos,Metade demônio, metade criança”.

Você sabia que já se pensou que a população brasileira miscigenada iria diminuir gradativamente até desaparecer, por volta do ano de 2140? Durante o século XIX, as nações mais industrializadas do período partiram em busca de novos fornecedores de matéria-prima, novos mercados consumidores e, graças à acumulação de riquezas nestes países, também atuaram como credores de nações mais jovens e conturbadas, como o Brasil, por exemplo.
A suposta “superioridade do homem branco” servia como justificativa e motivação para que vastos territórios na África, Ásia, Oceania e América fossem dominados, direta ou indiretamente, por nações “mais desenvolvidas”. Muitos acreditavam que se tratava de um esforço, um sacrifício do Homem branco em prol de povos atrasados e “pouco desenvolvidos”.
Retomemos a questão do fim da população brasileira. O responsável pela previsão apresentada acima foi um rapaz que viveu no Brasil e era amigo íntimo de D. Pedro II. Chamavam-no de Conde de Gobineau. Em 1873, logo depois que retornou para a França, após ter ficado um ano em nosso país, Gobineau publicou o ensaio “A emigração ao Brasil”, no qual incentivava os franceses a virem para cá. Vamos ler um trecho do artigo:
“A grande maioria da população brasileira é mestiça e resulta de mesclagens contraídas entre os índios, os negros e um pequeno número de portugueses. Todos os países da América, seja no norte ou no sul, hoje mostram, incontestavelmente, que os mulatos de distintos matizes não se reproduzem além de um número limitado de gerações. A esterilidade nem sempre existe nos casamentos, mas os produtos da raça gradualmente chegam a ser tão malsãos e inviáveis que desaparecem antes de darem à luz, ou então deixam rebentos que não sobrevivem.”

Conde de Gobineau não era uma voz solitária em sua época. Diversos pensadores justificavam a superioridade européia utilizando argumentos biológicos, evolucionistas, inspirados nas teorias darwinistas. Eis algumas palavras de Albert Sarrault, um defensor do poderio colonial europeu: ‘Age-se, assim, para o bem de todos. A Europa não abandonará, absolutamente, sua autoridade colonial. Ela está no comando e no comando deve permanecer’.”
O trecho a seguir foi retirado de um romance de Júlio Verne, famoso por suas obras de viagens e ficção científica. No texto, Verne apresentou influências do contexto neocolonialista europeu.
“O australiano permaneceu selvagem de costumes e de gostos e, por causa de seus hábitos inextirpáveis de canibalismo, ao menos em algumas tribos, está no último degrau da escala humana, quase na categoria dos carniceiros.”


Bons estudos!

segunda-feira, 2 de abril de 2012

A Utopia, o Príncipe e a Cocanha


2º do Médio
A Utopia, o Príncipe e a Cocanha

As duas obras trabalhadas nesta situação de aprendizagem nos convidam a, pensar e refletir sobre os dois estudiosos renascentistas (Nicolau Maquiavel e Thomas Morus) e suas relações com o imaginário popular dentro de uma relação de “circularidade” cultural entre o erudito e o popular.
Nicolau Maquiavel, um dos principais pensadores políticos da península Itálica no século XVI, foi alto funcionário da chancelaria de Florença e designado para tratar de assuntos externos da República florentina. Sua obra principal, O Príncipe, foi publicada no final de sua vida e reflete o pragmatismo típico de um funcionário que transitou entre as esferas de poder da Europa e conheceu os jogos políticos de seu tempo. Evidencia a grande fragilidade dos Estados europeus, ainda em processo de formação, e como se colocavam os governantes e políticos diante das circunstâncias que lhes apareciam. Leia o texto a seguir:

“O príncipe, de todo modo, deverá fazer-se temido, de sorte que, em não granjeando a estima, ao menos evitará ser o alvo de ódios, afinal, é perfeitamente possível a um só tempo fazer-se temido sem fazer-se odiado, o que, aliás, ocorrerá sempre que ele se abstiver dos bens dos seus concidadãos e dos seus súditos, bem como das mulheres destes.
E, se ainda precisar atentar contra o sangue de alguém, deverá fazê-lo com uma decorosa justificação e com uma razão manifesta.
Mas, sobretudo, deverá ele abster-se dos bens de outrem, visto que os homens não tardam tanto a esquecer a morte de um pai quanto a perda de um patrimônio.”
MAQUIAVEL, Nicolau.  O Príncipe. Porto Alegre: LP&M, 2006.

Ele (Maquiavel) escreveu o livro em uma península não-unificada, com guerras e invasões estrangeiras constantes; a fragilidade de alguns governos italianos preocupava-o, se comparada com monarquias poderosas como a inglesa, a francesa e a espanhola.
A importância da obra de Maquiavel na época de sua produção deu-se principalmente, porque foi escrito durante a consolidação dos Estados Modernos europeus. Há durante todo o livro lições de como um governante deve agir para que o poder seja adquirido e mantido em suas mãos.

Paralelamente ao pragmatismo de Maquiavel, a Europa Medieval conviveu com inúmeras utopias, como o mito da Fonte da Juventude e o Reino do preste João, sendo a mais famosa delas a criada por Thomas Morus. No geral, elas constituíram as idealizações “de sociedades afortunadas, regidas por leis muito diferentes dos rígidos preceitos que ordenam a vida cotidiana. As utopias do século XVI desejaram fazer passar por concreto o que era exagerado e o que contrariava frontalmente as duras regras da vida real, refletindo um forte pessimismo em relação ao presente e uma grande esperança no futuro”.

O texto de Thomas Morus que você confere a seguir é uma utopia erudita, na qual se descreve uma ilha bastante organizada, onde os habitantes trabalham, possuem poucas leis, mas elas existem; há um regramento da alimentação, embasado na manutenção da saúde.
No caso das utopias populares, diferentemente da obra de Morus, o destaque é a Cocanha, região mitológica na qual as pessoas não trabalhavam, só havia vinho para beber, comida abundante, sexo ao bel-prazer e o melhor de tudo: nada disso tinha fim. Era uma quimera muito frequente no imaginário popular da época: “representou os anseios dos homens pobres do Renascimento, e uma recusa obstinada, por meio da imaginação, da precariedade da vida”.

“Os utopianos vivem em paz e amizade uns com os outros. Nenhum magistrado se mostra orgulhoso ou temível. Chamam-lhes pais e, de fato, agem como tal. Os cidadãos prestam-lhes as devidas homenagens, espontaneamente, sem qualquer coação.
O próprio príncipe não se distingue dos outros cidadãos por vestuário principesco, nem por coroa, diadema real ou manto, mas por um pequeno feixe de trigo que leva consigo. Espantam-se os utopianos que alguém seja tão louco que se deleite com o brilho incerto de uma pérola ou pedra preciosa, quando se pode olhar o brilho das estrelas e a luz do Sol. [...] Maravilham-se também que o ouro, por não servir para nada, seja mais estimado entre os outros povos que o próprio homem [...].”
MORUS, Thomas. Utopia. São Paulo: Martin Claret, 2004.

Ao descrever a ilha de Utopia, Morus fez duras críticas ao contexto inglês do século
XVI, sobretudo, ao poderio dos reis, da ganância gerada pela riqueza e pelo poder.
Ele escreveu a Utopia no século XVI, durante o reinado de Henrique VIII, em um contexto absolutista, no qual o poderio da monarquia inglesa atingiu seu ápice.
Morus foi executado por Henrique VIII, um dos principais admiradores de Maquiavel.

Bons estudos!

As Indulgências e os protestantes


2º do Médio
As Indulgências e os protestantes

“Agora, portanto digo que estamos no momento e nos aproximamos da futura renovação do mundo, ou de uma grande alteração ou de sua aniquilação [...].”
Cônego de Langres, França, Livre de l’estat et mutation des temps, 1550. Apud DELUMEAU, Jean. História do medo no Ocidente. São Paulo: Companhia das Letras, 1989. p. 226.

Nesta situação de Aprendizagem estudaremos a Reforma Religiosa.
O nascimento das religiões protestantes remonta ao século XVI, período de grandes transformações religiosas tanto na Europa quanto na América e no Oriente. O clima apocalíptico presente na mentalidade européia já alardeava.

“28: Concluímos, pois, que o homem é justificado pela fé, independentemente das obras
da lei [...].”
Carta aos Romanos, Cap. 3, Versículo 28. ALMEIDA, João Ferreira de.  A Bíblia sagrada. Versão Corrigida e Revisada Fiel. Disponível em: <http://www.biblia online.com.br/acf/rm/3>. Acesso em: 13 out. 2008.

Este texto deu origem, posteriormente, à doutrina da “salvação pela fé”, que se converteu na base da Reforma Protestante européia, materializada na oposição de Lutero às indulgências vendidas pela Igreja Católica para a salvação de seus fiéis. Segundo Lutero, o pecado original, a expulsão de Adão e Eva, teria sido tão forte que o Homem está constantemente ligado a ele; não há obra que o redima, a não ser a graça de Deus – ou seja, as indulgências não salvam. O clima apocalíptico que dominou a mentalidade européia desde o ano 1000, reforçado por inúmeros acontecimentos posteriores (como a Peste Negra, a Guerra dos Cem Anos, o exílio do papado em Avignon, e até mesmo a descoberta da América), foi um dos motivadores da reforma luterana no século XVI, levando ao rompimento do clima religioso que vivia no Sacro Império Romano Germânico com a Igreja de Roma. Não podemos esquecer que um dos temas centrais de suas preocupações era a salvação.
As 95 Teses, publicadas em Wittemberg, geraram várias consequências, a começar pela expulsão de Lutero da Igreja Católica. O caso dele, contudo, é mais bem compreendido no contexto de descontentamento e questionamento em relação à doutrina e à conduta da Igreja de Roma — algo que, então, atingia todo o continente europeu. Em Genebra, cidade que, fazia tempo, declarava-se inimiga do papado, as idéias de Lutero motivaram diversos reformistas, entre os quais zwinglio, João Calvino e, posteriormente, na Inglaterra, Henrique VIII, que também rompeu com a Igreja romana, dando seqüência à extensa ramificação do protestantismo.

“43. Deve-se ensinar aos cristãos que, dando ao pobre ou emprestando ao necessitado, procedem melhor do que se comprassem indulgências. [...] 46. Deve-se ensinar aos cristãos que, se não tiverem bens em abundância, devem conservar o que é necessário para sua casa e de forma alguma desperdiçar dinheiro com indulgências.”
Debate para o Esclarecimento do Valor das Indulgências pelo Doutor Martinho Lutero. 31 de outubro de 1517. Disponível em: <http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/95%20Teses%20de%20Lutero.pdf>. Acesso em: 13 out. 2008.

Neste excerto de texto, evidencia-se outro motivo de questionamento da Igreja: sua riqueza pujante e ostensiva. A campanha de Tetzel de cobrança de indulgências na região onde vivia Lutero para o levantamento de fundos para a construção da Basílica de São Pedro, bem como seu comércio desenfreado, praticamente determinaram o rompimento de Lutero com a Igreja.

Além das influencias de Lutero, abordamos também as idéias de Calvino, que entre outras coisas disse:
“Da mesma maneira, pois, que é necessário crer na Igreja que não vemos e que só Deus conhece, também nos está ordenado honrar a Igreja visível e nos mantermos em sua comunhão.”
João Calvino. Instituição cristã, 1560.

Percebemos nesta frase de Calvino, a influência do pensamento de Lutero, sobretudo, porque ambos defendem a existência de uma igreja invisível, interior e individual. Atacam, dessa forma, a necessidade de uma igreja hierarquizada e física.
No entanto, Calvino não concorda com Lutero em tudo, pois ele (Calvino), vai além de Lutero e defende que, apesar da existência de uma igreja interior, há um compromisso também social em relação à vida religiosa, pois a igreja física “nos mantém em comunhão”.

“O sinal está dado. Rua de Béthisy, os acólitos do duque de Guise acabam de assassinar o almirante e de jogar seu corpo pela janela. Em todos os bairros da cidade desencadeia-se infame carnificina [...]; no dia 26, quando Carlos IX se dirige ao parlamento para uma sessão solene, ele é aclamado pelos parisienses.”
BORDONOVE, G. São Bartolomeu, um massacre em nome de Deus. História Viva. Ano 1, no 6. São Paulo: Duetto, 2004.  p. 71.

E por fim, vimos que estes movimentos protestantes, desencadearam conflitos religiosos e políticos violentos, como no caso a Noite de São Bartolomeu (evento do último quartel do século XVI), retratada no texto acima.

Bons estudos!

Que mundo é esse?


2º do Médio
Que mundo é esse?

Nesta Situação de Aprendizagem, o foco temático é o Renascimento Cultural, com ênfase no desenvolvimento de modelos de representação de mundo baseados no racionalismo, no cientificismo e no antropocentrismo.
Para tanto, analisaremos o mapa de Isidoro de Sevilha, que divide o mundo em três continentes (Europa, África e Ásia). Trata-se de uma obra produzida no século XIII, ainda um período de desconhecimento do continente americano, “descoberto” pelos espanhóis somente em 1492. A tripartição apresentada no mapa deve-se, principalmente, a influências bíblicas: os nomes dos filhos de Noé – Sem, Iafech e Cham – são colocados abaixo dos continentes.

  

Antes da utilização da bússola de maneira definitiva na Europa, o Norte não possuía a primazia da parte superior dos mapas e cartas. A parte superior era reservada ao Oriente, a terra do sol nascente, da luz, do paraíso, de onde haviam sido expulsos Adão e Eva.
Esta tripartição do mundo remete às três ordens do imaginário medieval e colocam-no em correspondência com a tripartição da casa divina, assim como aparece no famoso texto do Bispo de Laon, Adalberão, no final do século X.
O formato circular é recorrente em vários mapas-múndi medievais; a perfeição da forma circular, uma tradição platônica, se mantém como digna da perfeição de Deus. O Oceanus que circunda o mundo nos lembra as descrições de Homero.

Trata-se, portanto, de um mapa com fortes influências religiosas, uma representação esquemática e pouco precisa do mundo material na visão dos viajantes da modernidade européia. No imaginário medieval, talvez fossem mais precisos do que os desenhados na projeção de Mercator, após 1569.
Com as navegações dos séculos XV e XVI e com o desenvolvimento do pensamento renascentista, a representação do mundo sofreu grandes alterações. O racionalismo estabeleceu uma relação mimética com a natureza; os pintores, os cartógrafos e os estudiosos de uma maneira geral (seja de cadáveres humanos ou de astros celestes) passaram a rejeitar os modelos de explicação somente religiosos.
Embora ainda não tivessem sido abandonados por completo, passaram a ser questionados e colocados em uma perspectiva humanista e naturalista, investigando formas e funções a partir da observação, dos órgãos de pessoas mortas, da costa litorânea, do trajeto das estrelas no céu e da visão captada pelo olho humano. Daí surgiram os estudos de anatomia de Leonardo e Vesalius, o heliocentrismo de Copérnico e Galileu, a perspectiva racional de representação do espaço presente nas pinturas da maioria dos artistas do período – e a cartografia moderna, que acompanhava as grandes navegações na descoberta de novos continentes.
Bons estudos!